sexta-feira, 31 de maio de 2019

As empresas e os desafios do envelhecimento

O envelhecimento da população, sendo um sinal evidente da melhoria das condições de vida – e, nessa medida, uma conquista civilizacional muito positiva – constitui também um dos grandes desafios que hoje se colocam às empresas, em diversas dimensões.
A conciliação trabalho/família tem sido um tema tão relevante quanto inspirador para as políticas de gestão de recursos humanos e de responsabilidade social interna, sendo vista como uma forma de prevenção do burn out associado à pressão simultânea de deveres profissionais e de deveres relacionados com a vida familiar.
Se durante muitos anos o tema da conciliação trabalho/família era perspetivado pelas empresas essencialmente na ótica da proteção da relação entre pais e filhos, hoje o paradigma mudou e são cada vez mais os colaboradores que são, também, cuidadores de ascendentes dependentes, que necessitam do seu apoio. E o problema não pode senão agravar-se, dado o duplo fenómeno de acentuado envelhecimento populacional, e de queda dos índices de natalidade na maior parte dos países europeus.
Neste contexto, as políticas de responsabilidade social interna das empresas terão forçosamente de se adaptar a uma nova realidade com a qual o tecido empresarial ainda está a aprender a lidar e para a qual não há respostas simples, sobretudo tendo em conta que as políticas públicas – mais viradas para a natalidade do que para o envelhecimento ativo – não estão a dar ao tema a atenção que ele merece. É na verdade inquestionável que, a nível político, a preocupação tem sido direcionada, quase exclusivamente, para as obrigações parentais, com inegável autismo face à alteração da estrutura demográfica do país.
Outro importante (mas sobejamente ignorado) desafio para as empresas decorre da circunstância de os constantes avanços tecnológicos incorporarem o risco de deterioração da utilidade e das condições laborais dos trabalhadores mais velhos, por natureza detentores de maiores dificuldades de adaptação e por isso mais permeáveis a abandonar a vida laboral mais cedo do que o desejável, com isso criando condições para que um envelhecimento ativo se torne um objetivo mais difícil de alcançar.
A incontroversa relação entre envelhecimento ativo e solidariedade entre gerações – que deveria estimular a permanência dos colaboradores mais velhos nos círculos de influência, valorizando os contributos, saberes e perspetivas das várias gerações e cimentando uma cooperação essencial à sociedade como um todo –, encontra-se assim ameaçada sob diversos pontos de vista.
Às empresas socialmente responsáveis cumpre serem capazes de valorizar o colaborador independentemente da idade, não a encarar como um estigma ou um obstáculo à aprendizagem e à mudança e, ao mesmo tempo, garantir que os mais jovens encaram os seniores não como obstáculos à sua progressão, mas como exemplos e parceiros internos. Incumbe-lhes, em suma, assumir um papel determinante no combate ao idadismo, à exclusão pela idade, à disseminação de ideias estereotipadas que tendem a massificar os desejos, as necessidades e as vulnerabilidades daqueles que atingem uma fase mais avançada numa vida que é cada vez mais longa.
Coexistindo, em quase todas as empresas, colaboradores de diversas gerações, é crescente o papel a desempenhar na preservação da solidariedade geracional, quer através da adoção de práticas inclusivas dos colaboradores mais seniores, quer através de uma gestão promotora de um envelhecimento ativo e saudável, quer ainda mediante a implementação de medidas de conciliação trabalho/família que incorporem o cumprimento, pelos colaboradores, de obrigações familiares face aos ascendentes.
Num momento em que as empresas enfrentam grandes desafios e em que é difícil equilibrar as várias vertentes da responsabilidade social corporativa, reconhecer a importância desta nova frente e a necessidade de lidar com ela, tem tanto de difícil como de inevitável.
Texto retirado link to leaders
 

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