A pandemia de Covid-19 está a ter um impacto avassalador
na economia mundial e os seus efeitos vão ser ainda mais severos do que os da
crise financeira de 2008-09. É, de resto, muito provável que haja alterações de
paradigma em várias áreas.
A sociedade está já a organizar-se de forma a evitar o
contacto humano próximo e isso terá repercussões nas atividades económicas, no
mercado de trabalho e no relacionamento interpessoal. Tanto mais que, como é
evidente para quem está hoje em confinamento social, as tecnologias digitais já
permitem que as sociedades funcionem remotamente.
Como consequência da crise pandémica, vamos certamente
assistir ao acelerar da transformação digital, incluindo em Portugal. É por
demais evidente a necessidade das empresas estarem preparadas para produzir e
comercializar os seus bens, prestar os seus serviços, interagir com os seus
clientes e fornecedores e desenvolver as suas atividades laborais remotamente.
Para tanto, há que incorporar tecnologias digitais em toda a cadeia de valor
das empresas, o que obriga a mudanças nos modelos de negócio, nos processos
internos e na relação com os stakeholders.
Como muitos de nós estão hoje a verificar, o teletrabalho
é perfeitamente viável com as tecnologias digitais ao dispor da generalidade
das famílias, sobretudo se se tratar de atividades profissionais da nova
economia. Não devemos, pois, encará-lo como uma alternativa ao trabalho
presencial apenas em situações excecionais ou como um modelo válido tão-só para
os profissionais liberais. Em certo sentido, o teletrabalho é a forma de
organização laboral mais conveniente ao estilo de vida das sociedades
contemporâneas, na medida em que possibilita uma melhor gestão do tempo e do
ritmo de trabalho, reforça a autonomia individual, promove o bem-estar e faz
bem ao ambiente (nomeadamente ao evitar as deslocações).
Importa, no entanto, ter presente que há largas faixas da
população que não têm acesso a tecnologias digitais nem conhecimentos de
informática. A transformação digital deve, por isso, ser acompanhada de um
esforço de promoção da literacia informática. Ora, isto exige muita formação
tecnológica e reconversão profissional, para que as pessoas adaptem as suas
competências à vertiginosa evolução das necessidades do mercado de trabalho.
Acredito que as tecnologias digitais vão criar oportunidades de emprego, desde
que as sociedades saibam qualificar os seus cidadãos de forma a conferir-lhes
capacidade de adaptação.
Tal como no teletrabalho, também as barreiras culturais
em relação ao comércio eletrónico estão a cair com a crise pandémica. O
confinamento em casa torna evidentes as vantagens do e-commerce, quer para quem compra,
quer para quem vende. E se este era já um segmento em expansão, é de esperar
que, terminada a pandemia, o comércio eletrónico tenha ganho novos adeptos e
entrado na rotina de muitos consumidores. Para as marcas, esta é uma
oportunidade de fidelizarem clientes demonstrando a fiabilidade, eficácia e
segurança das suas plataformas de comércio on-line.
Em suma, a aceleração da transformação digital pode ser
uma das poucas boas notícias deste momento dramático que estamos a viver. Bem
sei que as empresas vão sair muito enfraquecidas desta crise pandémica. Mas a
recuperação do tecido empresarial também passa pela digitalização dos modelos
de negócio, parecendo-me pertinente haver incentivos públicos para que isso se
concretize.
Para as empresas portuguesas, a transformação digital é
uma oportunidade para melhorarem a eficiência interna, ganharem maior
capacidade de internacionalização, acompanharem os novos hábitos de consumo e
estreitarem as relações com os clientes. É inevitável a evolução da nossa
economia para o digital.
*Associação Nacional de Jovens Empresários
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