Firmeza,
rigor ou exigência são práticas de gestão compatíveis e não contraditórias com
o posicionamento de um líder que sabe reconhecer e desculpar-se pelos seus
erros.
Há um
conjunto de palavras e expressões do nosso léxico que utilizamos com elevada frequência
no nosso quotidiano, em casa, na rua ou no trabalho: “bom dia”, “boa tarde” ou
“boa noite”, “olá” ou “adeus”, “por favor” ou “obrigado” e “de nada” ou “não
tem de quê” são seguramente algumas delas.
Utilizamo-las
de forma generalizada e transversal na sociedade, independentemente da idade,
género, religião ou raça, sem prejuízo, naturalmente, da maior ou menor
propensão de cada indivíduo em usar tais palavras ou expressões, em função do
respetivo perfil ou traços de natureza comunicacional – entenda-se, por outras
palavras, ser mais ou menos introvertido, comunicativo ou mesmo simpático.
Também
eu faço uso regular dessas palavras e expressões, seguramente com maior
frequência com as pessoas com quem me cruzo ou me relaciono de forma mais
próxima ou recorrente no meu dia-a-dia, em detrimento de tantas outras pessoas,
tão ou mais importantes na minha vida, com quem, infelizmente, não tenho o
privilégio dessa proximidade ou recorrência no contato.
Todas
as palavras e expressões que dei como exemplo no início deste texto têm, em
simultâneo, uma natureza marcadamente positiva, como se quem as profere queira
transmitir, de uma forma simples e mais ou menos pronunciada, uma mensagem de
atenção, de simpatia ou de reconhecimento dirigida ao seu respetivo destinatário.
Essas
palavras e expressões não têm, todavia, e a meu ver, o poder que a palavra
“desculpe” pode ter, nomeadamente quando utilizada de forma ponderada e sincera
e não superficialmente ou meramente como um “chavão” como tantas vezes acontece
no nosso dia a dia: “olhe, desculpe, pode ajudar-me por favor?”.
Apesar
da composição da palavra “desculpe” parecer querer indicar o desfazer de uma
“culpa”, daí advindo uma potencial conotação negativa, como se quem a profere
queira ver-se livre da sua “culpa”, não é nessa perspetiva que a interpreto
neste artigo, mas antes no alcance do próprio ato de pedir desculpa.
Um
pedido de desculpa, repito, ponderado e sincero, constitui inequivocamente uma
demonstração de humildade. Possivelmente, um gesto de conciliação.
Provavelmente, uma manifestação voluntária de vulnerabilidade. Seguramente, um
exercício de autoconsciência. Basicamente, uma mensagem que torna evidente que
nos equivocamos ou erramos, mas que temos a capacidade de o reconhecer perante
outrem.
Adicionalmente,
um pedido de desculpa, assumido e despretensioso, não é apenas um mero ato de
humildade ou de respeito pelos outros – é também uma demonstração de
autoconfiança e de autoestima, contrariamente ao que se possa pensar.
Lembrei-me
de escrever sobre este tópico, simples e, não me custa admitir, pouco
sofisticado, dada a importância que o mesmo pode ter ao nível dos processos de
liderança e de gestão que vislumbramos em muitas organizações empresariais.
Com
efeito, acredito que a capacidade de um líder saber reconhecer os seus erros e
desculpar-se pode constituir um importante catalisador de confiança e um pilar
de uma liderança eficaz e inspiradora para a respetiva organização.
Diria
mesmo mais: hierarquia, firmeza, rigor, exigência ou responsabilização (accountability), enquanto conceitos
ou práticas relevantes para a competitividade e eficácia de uma organização
empresarial, são inteiramente compatíveis e nada contraditórios com o
posicionamento de um líder que sabe reconhecer e desculpar-se pelos seus erros.
Ao
longo da minha carreira tive o grato privilégio de trabalhar – e aprender – com
alguns líderes e gestores, tecnicamente sapientes nas suas áreas de atuação e
firmes, rigorosos e exigentes, mas também justos e humildes nas suas atitudes.
Saber reconhecer os seus erros, porque afinal todo o ser humano é imperfeito,
e, mais ainda, saber pedir desculpa pelos mesmos, tem sido, seguramente, umas
das fontes de inspiração na minha carreira.
Termino
este singelo texto, com um sincero “obrigado” dirigido a si que leu este texto
até ao fim, desejando-lhe um resto de um “bom dia”, “boa tarde” ou “boa noite”,
consoante o caso, e pedindo-lhe “desculpa” (em modo “chavão”, claro!) se não
deu o seu tempo por bem entregue ou se achou este texto demasiado lamechas.
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