A
conciliação trabalho/família tem sido um tema tão relevante quanto inspirador
para as políticas de gestão de recursos humanos e de responsabilidade social
interna, sendo vista como uma forma de prevenção do burn out associado à pressão simultânea de deveres
profissionais e de deveres relacionados com a vida familiar.
Se
durante muitos anos o tema da conciliação trabalho/família era perspetivado
pelas empresas essencialmente na ótica da proteção da relação entre pais e
filhos, hoje o paradigma mudou e são cada vez mais os colaboradores que são,
também, cuidadores de ascendentes dependentes, que necessitam do seu apoio. E o
problema não pode senão agravar-se, dado o duplo fenómeno de acentuado
envelhecimento populacional, e de queda dos índices de natalidade na maior
parte dos países europeus.
Neste
contexto, as políticas de responsabilidade social interna das empresas terão
forçosamente de se adaptar a uma nova realidade com a qual o tecido empresarial
ainda está a aprender a lidar e para a qual não há respostas simples, sobretudo
tendo em conta que as políticas públicas – mais viradas para a natalidade do
que para o envelhecimento ativo – não estão a dar ao tema a atenção que ele
merece. É na verdade inquestionável que, a nível político, a preocupação tem
sido direcionada, quase exclusivamente, para as obrigações parentais, com
inegável autismo face à alteração da estrutura demográfica do país.
Outro
importante (mas sobejamente ignorado) desafio para as empresas decorre da
circunstância de os constantes avanços tecnológicos incorporarem o risco de
deterioração da utilidade e das condições laborais dos trabalhadores mais
velhos, por natureza detentores de maiores dificuldades de adaptação e por isso
mais permeáveis a abandonar a vida laboral mais cedo do que o desejável, com
isso criando condições para que um envelhecimento ativo se torne um objetivo
mais difícil de alcançar.
A
incontroversa relação entre envelhecimento ativo e solidariedade entre gerações
– que deveria estimular a permanência dos colaboradores mais velhos nos
círculos de influência, valorizando os contributos, saberes e perspetivas das
várias gerações e cimentando uma cooperação essencial à sociedade como um todo
–, encontra-se assim ameaçada sob diversos pontos de vista.
Às
empresas socialmente responsáveis cumpre serem capazes de valorizar o
colaborador independentemente da idade, não a encarar como um estigma ou um
obstáculo à aprendizagem e à mudança e, ao mesmo tempo, garantir que os mais
jovens encaram os seniores não como obstáculos à sua progressão, mas como
exemplos e parceiros internos. Incumbe-lhes, em suma, assumir um papel
determinante no combate ao idadismo, à exclusão pela idade, à disseminação de
ideias estereotipadas que tendem a massificar os desejos, as necessidades e as
vulnerabilidades daqueles que atingem uma fase mais avançada numa vida que é
cada vez mais longa.
Coexistindo,
em quase todas as empresas, colaboradores de diversas gerações, é crescente o
papel a desempenhar na preservação da solidariedade geracional, quer através da
adoção de práticas inclusivas dos colaboradores mais seniores, quer através de
uma gestão promotora de um envelhecimento ativo e saudável, quer ainda mediante
a implementação de medidas de conciliação trabalho/família que incorporem o
cumprimento, pelos colaboradores, de obrigações familiares face aos
ascendentes.
Num
momento em que as empresas enfrentam grandes desafios e em que é difícil
equilibrar as várias vertentes da responsabilidade social corporativa, reconhecer
a importância desta nova frente e a necessidade de lidar com ela, tem tanto de
difícil como de inevitável.
Texto
retirado link to leaders