O tema
é controverso, bem sei. E, a título de declaração de intenções, saliento que
não me anima qualquer espécie de preconceito (pelo menos consciente) nem em
relação à política, nem em relação aos políticos.
Faz-me
simplesmente alguma confusão que, sendo a política uma atividade nobre, em
princípio, eminentemente orientada para a defesa de princípios de cidadania e
de uma ordem mais justa para o coletivo dos cidadãos, os políticos por vezes
deem de si próprios e das causas que servem uma imagem tão grotescamente
diferente dos princípios que protestam defender.
Esta “décalage” é tanto mais impressiva,
quanto tanto mais se distancia dos paradigmas que vão fazendo cada vez mais “mainstream” nos contextos da gestão
empresarial, onde atualmente se vão enunciando e se vão expandindo práticas
totalmente divergentes dos arquétipos destilados pelos discurso e práticas
políticas (ou, pelo menos, de alguns políticos).
Vejamos
alguns exemplos concretos:
As
atuais competências requeridas aos líderes empresariais de comunicação
interpessoal, alicerçadas em paradigmas de respeito pelo outro e de negociação “win-win”, desenham-se de acordo
com a conhecida expressão “nós temos dois ouvidos e uma boca, e há que agir em
conformidade”. Como consequência, treinam-se os ditos líderes em competência
como “escuta empática”, “escuta ativa”, “capacidade de comunicação e
relacionamento interpessoal”, entre outras, onde o objeto do treino é tornar as
pessoas (mais) capazes para estabelecerem relações positivas com os outros e enfrentar
e lidar construtivamente com os conflitos, procurando sempre manter uma postura
íntegra e deixar “espaço psicológico” ao outro para que ele não perca o
contacto com a sua mais genuína pessoalidade.
Ora, se
nos deslocarmos para o espaço político, o que assistimos com indesejável
frequência, seja em debates públicos, seja mesmo (e talvez sobretudo) nas
intervenções na Assembleia da República, é ao espetáculo degradante da "berraria" constante, do insulto desbragado, das explosões emocionais disruptivas
dificilmente camufladas de ironia mordaz, e, talvez mais grave do que isto, à
exibição tonitruante das opiniões afirmadas como verdades absolutas.
Apesar
dessa afirmação ritualista e oca de que “estarmos abertos ao diálogo”, as
práticas de (alguns) políticos ostentam na verdade o fechamento obstinado a
ideias diferentes, à teimosa determinação de que “razão há só uma: a minha, e
mais nenhuma”, e à completa desqualificação da presença e das ideias do outro,
num inequívoco exercício de negação de um dos atributos mais valorizados pelas
empresas de hoje: a diversidade.
No
megalómano esforço de demonstração da verdade própria, alguns agentes políticos
tornam-se mais versáteis às perversões da autocentração, confundido a “causa
pública” com a “causa própria”, com as consequentes falhas de visão sistémica
do sistema global, que pode conduzir a défices críticos de adaptabilidade.
Embora
muitas organizações mantenham ainda modalidades de ação e de interação muito
semelhantes às anteriormente caracterizadas, há hoje um movimento cada vez mais
global no sentido de tornar as organizações um efetivo espaço de valorização
pessoal, através de práticas que exponenciam a mais profunda humanidade de cada
pessoa.
É esse
o verdadeiro segredo do sucesso sustentado: libertar o potencial das pessoas e
valorizar o diferente que cada um pode incorporar na organização para que a sua
missão e estratégia possam ir mais-além. Porque afinal, como escreveu Burhan
Sonmez, “os seres humanos são as
únicas criaturas que não se contentam em ser eles próprios”.
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