Muitos
atletas de alta competição atribuem parte do sucesso ao estado mental antes e
durante as competições. Quer bata um recorde mundial da modalidade ou faça a
melhor apresentação da história, trata-se de ter um conjunto de ferramentas
para lidar com o stress, explica uma psicóloga que acompanha desportistas de
topo.
Quando pensamos no treino de atletas para competições como os Jogos Olímpicos,
é comum focarmo-nos mais na parte física: quanto comem num dia (muito), como
esculpem o físico perfeito para competir, como aliviam a dor, etc. Mas depois
há o outro tipo de treino – o mental. O que significa estar psicologicamente
preparado para uma maratona, por exemplo? É algo que não se quantifica da forma
como se conta as calorias ingeridas. Ainda assim, muitos atletas de alta competição atribuem
o seu sucesso, pelo menos em parte, ao estado mental antes e durante o
evento. A golfista americana Lexi Thompson, por exemplo, refere que tem de
“manter uma atitude positiva, porque o golfe é 80% parte mental”.
A
psicóloga americana Kristin Keim, que acompanha atletas
de alta competição, muitos dos quais participaram nos Jogos Olímpicos Rio 2016,
no Brasil, explicou recentemente à revista Business
Insider
que o esquema de treino mental que usa é diferente para cada cliente. Mas, em
geral, o seu objetivo é ajudar os atletas a criarem um conjunto de
ferramentas ao qual podem recorrer quando se sentem stressados ou
sobrecarregados
– e que são as mesmas ferramentas que recomenda a quem se sinta sob pressão no
trabalho.
Por exemplo, Kristin Keim ensina os clientes a “controlarem o controlável”,
por comparação com os eventos que estão fora do seu controlo. Para esse fim,
incentiva os atletas a desenvolverem uma rotina
que praticam antes do treino e antes da competição em si. Outro aspeto em comum
no seu treino é a visualização. A psicóloga pede com frequência aos clientes
que visualizem como irá ser todo o seu dia – desde o acordar à ida para o
trabalho (caso tenham um emprego), passando por um percurso de bicicleta de
duas horas, por exemplo. Uma vez mais, trata-se de assumir o controlo sobre
aquilo que pode. Sim, o dia vai ser stressante, mas em vez de se
sentirem assoberbados, os clientes de Kristin Keim aprendem a dizer: “Estou no
lugar do condutor. Estou aos comandos. Vou ter um dia bom”. Estes também são
incentivados a manter um diário/registo, especialmente se se estiverem a sentir
demasiado pressionados ou com dificuldade em dormir.
No caso da ciclista americana Megan Guarnier, que Kristin Keim acompanhou nas
Olimpíadas do Rio de Janeiro, a psicóloga ajudou-a a não pensar em demasia nas
coisas. “Confia apenas que és a melhor”, declara ela à atleta e a clientes com
dificuldades similares. Curiosamente, Kristin Keim afirma que a parte mais
fácil dos Jogos Olímpicos é muitas vezes a prova em si, por comparação com a
antecipação e as expetativas criadas. Quando os atletas arrancam com a
bicicleta, começam a correr ou a nadar, estão “de volta a casa”, explica. E
diz-lhes “vai, encontra a tua onda, e faz aquilo que sabes fazer”. O tema principal por detrás de todas as ferramentas/capacitação de Kristin Keim
é o mindfulness, ou plena consciência (treino baseado na
conexão mente-corpo que ajuda a observar a forma como se pensa e sente acerca
da vida, das experiências, seja bom ou negativo; consiste em prestar atenção ao
momento presente sem ficar apegado ao passado ou se preocupar com o futuro), e
é frequente incorporar a meditação no seu plano de treino – nem que seja só 10
a 15 minutos por dia. De um modo geral, ela ensina os clientes a
permanecerem no momento, em vez de deixarem os seus pensamentos fugirem para
o desempenho passado ou futuro – e esta é uma parte fundamental da meditação.
Pensar no futuro pode criar ansiedade (há estudos que o
corroboram) e pensar sobre o passado pode contribuir para a depressão, refere a
psicóloga. O objetivo destas práticas é chegar a um nível de excitação ótima
para a competição, o que geralmente significa tentar sentirem-se animados e
motivados, em vez de ansiosos. Este princípio aplica-se à preparação para
uma reunião importante com o seu chefe, quando tem de fazer uma apresentação,
ou tem um prazo apertado de entrega de um projeto – ou seja, em situações
que a maioria de nós enfrenta todos os dias.
Kristin Keim considera que falarmos com nós próprios é crucial, quer se seja
um atleta olímpico ou não. E ensina muitas vezes os clientes a reformularem
os seus pensamentos negativos. Por exemplo, em vez de pensarem “não sou bom a
falar em público” antes de uma conversa, dizerem a si mesmos “tenho andado a
praticar e estou preparado”.
Talvez a parte mais importante do acompanhamento de Kristin Keim esteja em
aprender a apreciar o que se está a passar mesmo à sua frente. “Todos
precisamos de nos lembrar deste aspeto”. E recomenda que dediquemos um momento
para entrar em sintonia com todos os nossos sentidos: “como parece realmente o
ambiente à sua volta?”.Em última análise, quer bata um recorde mundial de ciclismo ou faça a melhor
apresentação da história, trata-se de “desfrutar esse momento”.
Texto retirado - Portal
da Liderança
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